Estamos doentes virtualmente
O surgimento de um vício é capaz de acabar com a vida de uma pessoa, digo isso pois talvez você já esteja tão viciado em alguma coisa que nem lerá esse texto até o final, ao ver a quantidade de palavras já se sentiu cansado ao pensar na possibilidade de prosseguir, mas se deseja viver com essa ideia, vá em frente, saia da leitura e retorne aos seus prazeres egoísticos. É isso que um viciado faz, ignora o desconforto e abraça o que conforta o seu estado atual.
O passo inicial para um vício é no desconhecido, na curiosidade, no novo, uma tentação que te invoca e te chama para aquilo, e sendo fisgado por esses anzóis, dificilmente conseguirá voltar tão fácil para as águas. Então, levado pelas leviandades da carne, você é o mais novo premiado no mundo dos vícios. Existem vícios que a pessoa pode adquirir devido a algum trauma do passado ou algum outra condição psicológica, não é sobre isso que falaremos. Contudo, vejamos nossa realidade no mundo virtual.
O século XXI é o mais conectado de todos os tempos, se antes as informações chegavam por meio das Caravelas, hoje bastam segundos para informar alguém do outro lado do mundo via WhatsApp. Bom por um lado, destruidor pelo outro. O excesso de informações faz com que nós não consigamos absorver todas de uma vez, por isso estamos tão esquecidos e curiosamente viciados nesse sistema. Para simplificar, imaginemos uma máquina de lavar roupas que aguente apenas 15kg, ela não aguentará receber o dobro, o triplo de roupas, primeiro que nem irá caber dentro do compartimento, saltará para fora e a tampa nem sequer se fechará. Isso é o que acontece conosco, imagine-se agora em uma festa eletrônica, rodeado de 5 pessoas e cada uma te falando um assunto diferente, uma te fala sobre como foi o date dela na noite anterior, outra desabafa sobre os infortúnios na família e assim por diante, diga-me, você conseguirá conversar com todas ao mesmo tempo, dar atenção plena as 5, curtir o som e lembrar de tudo quando chegar em casa? Muito provavelmente que não. Somos como a máquina de 15kg que não cabe mais do que isso. Se não damos conta na realidade, por que nos permitimos conversar com várias pessoas virtualmente e ainda checar as redes sociais, vídeos, stories, verificar agendas, e-mails, grupos do trabalho, da faculdade?
É muito fácil você conversar com os outros pela internet, caso fique enjoado do assunto basta ignorar a pessoa por 3 horas ou voltar quando quiser, afinal, ela não precisa saber o motivo que você sumiu, mas, pessoalmente isso quase não é possível, moralmente não é nada educado você ignorar pessoas, além de que sabemos que isso dá uma má impressão. A internet tem nos transformado nisso: seres que não se importam mais com o próximo. Partindo da premissa popular que a internet é uma "terra sem lei", por vez, acabamos agindo como queremos, sem pensar nas consequências. E quem recebe a pior consequência? Você, eu, todos nós que nos submetemos a um vício que não parece ter fim.
Estamos nos tornando pessoas preguiçosas, antipáticas, chatas, indeterminadas, fracas, esquecidas e desatentas. Dentre esses tristes adjetivos, os piores com certeza é a preguiça e a desatenção, pois, a longo prazo acarretará outros problemas.
Preguiça de nós mesmos, dos outros, de lavar um copo, arrumar a cama, preguiça gera falta de amor, de cuidado, não queremos mais nos dispor, não queremos ajudar, agora é cada um por si, não tem empatia, não tem compaixão, cada um que se vire nos 30.
Ah, a desatenção! Maldita seja. Não lembramos de mais nada, não prestamos mais atenção em quem fala, ouvimos mas não absorvemos, perdeu-se a graça de falar olhando nos olhos, reparar cada detalhe. Hoje? Não sabemos mais o que é isso.
E assim vamos levando a vida, apenas aceitando o que é ruim, é como beber veneno sabendo que vai morrer.

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